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Natal, Procura-se: Vivo ou Morto

Que este Natal não seja igual aos outros, que não seja simplesmente só mais um momento de folia e felicidade vã: lembremo-nos de Jesus que veio ao mundo por nós.

Rodrigo Vasco Ribeiro
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«Aquele povo que caminhe este Natal não seja igual aos outros, que não seja simplesmente só mais um momento de folia e felicidade vã: lembremo-nos de Jesus que veio ao mundo por nós nas Trevas viu uma grande luz» diz-nos assim o versículo 1, do capítulo 9 de Isaías. Essa grande luz era o símbolo que demonstrava a vinda do Messias que, segundo a profecia, nasceria em Belém e que seria descendente do Rei David.

Assim, ali mesmo, naquela noite fria e escura, um grande sinal surgiu no céu: era o Menino Jesus que acabava de nascer.

Aparentemente, uma grande contradição: como poderia Deus vir ao mundo, como uma criança frágil e inocente, no seio de uma família pobre, num palheiro, apenas com a presença de José, Maria e alguns pastores que por lá passaram? Algo não poderia estar certo, pensamos nós com a nossa fragilidade humana. Com a nossa ansiedade de quem tem que ter tudo impecável, de que tudo deve estar em conformidade com o nosso plano, achamos, à primeira vista, que aquilo não estava certo, que a História não poderia estar correcta. Novamente, Deus quer-nos demonstrar que não deveremos confiar demasiado na nossa percepção do mundo, nem que devemos pôr total confiança nas nossas capacidades. Para nós, tudo errado, para Deus, o plano perfeito. Foi desta forma, que desde o princípio da Igreja, os cristãos foram celebrando o nascimento de Cristo.

Natal, que quer dizer “nascimento”, vem do latim “natalis”, refere-se a este dia tão importante: o Senhor Jesus comemora o seu aniversário de Nascimento. Os ingleses adoptaram uma outra expressão para se referir a este dia, mas que, talvez, até seja mais elucidativa: “Christmas”, com o vocábulo “Christ” e “mass”, portanto, “a Missa de Cristo”. A primeira referência direta da sua celebração aparece no calendário litúrgico filocaliano do ano 354 (MGH, IX, I, 13-196): VIII kal. Ian. natus Christus in Betleem Iudeæ (“no dia 25 de dezembro nasceu Cristo em Belém da Judéia”). A partir do século IV, os testemunhos deste dia como data do nascimento de Cristo tornam-se comuns na tradição ocidental. Na oriental, prevalece a data de 6 de janeiro. Contudo, para mais informações sobre a sua data de nascimento, aconselho vivamente a leitura de um livro do Papa Bento XVI, Introdução ao Espírito da Liturgia.

A grande questão que me pergunto é: o que aconteceu a estes tempos? O que aconteceu àquela união que se vivia em torno do Menino que nascia e que prontamente nos dirigíamos a vir recebê-lo no meio de nós? Em que momento O abandonámos e resolvemos tornar esta festa tão bonita, uma mera celebração secular e profana para trocar presentes e comer muito? Porque perdemos o costume dos pastores, que naquela noite foram adorar Nosso Senhor deitado num palheiro?

Talvez este estranho fenómeno tenha ocorrido exatamente pela maneira como começámos a olhar para o mundo. Numa era de grandes avanços tecnológicos, em que literalmente já não é preciso sair de casa para fazer o que quer que seja, perdemos também a nossa sensibilidade. O ser humano já não se impressiona com facilidade, muito menos sente compaixão com o próximo. Por um lado, vemos a guerra, a miséria e a fome, por outro vemos os avanços na medicina, na tecnologia, na ciência e tornámo-nos indiferentes aos outros. Deus quis vir visitar o seu povo, quis tomar sobre si a própria cruz para que nós tivéssemos vida e vivessemos em abundância (Jo 10:10). De facto, o Deus omnipotente, que Criou o Céu e a Terra e todas as coisas visíveis e invisíveis, veio ao mundo no sítio mais humilde, mais simples e mais pobre que estava disponível naquele momento. Será que temos disponibildiade nos nossos corações para Ele aí poder nascer? Desprezámos este convite de Deus e preferimos, novamente, confiar no nosso próprio conhecimento, nas nossas ideias e concepções, como se a Criação tivesse sido por nós mesmos realizada.

«Deus está morto» conforme Nietzsche iria afirmar profeticamente. Abandonámos Deus, como os nossos pais no Éden,  como o mundo antes do Dilúvio de Noé, como quando o Reino de Israel começou a adorar outros Deuses. E Deus, será que nos abandona? Tanto ontem, como hoje, pacientemente Ele aguarda-nos como na parábola do Filho Pródigo, em que o Pai comemora a vinda do seu filho, porque «ele estava morto». Deus alegra-se com a nossa reconciliação e quer-nos a todos, sem excepção, junto Dele.

Por isto, e sem mais delongas, que este Natal não seja igual aos outros, que não seja simplesmente só mais um momento de folia e felicidade vã: lembremo-nos de Jesus que veio ao mundo por nós e saibamos reconhecer esse grande momento. No meio de tantos presentes, de tanta energia com as nossas famílias, procuremos também espaço para aquele que é o grande “presente” que Deus nos dá: a vinda do Seu Filho muito Amado!

Feliz e Santo Natal a todos!