Haverá um mundo onde a air fryer não ocupe um lugar de destaque na bancada da cozinha? Pode parecer distante, mas, a verdade é que esta fritadeira de ar quente — dito em bom português — faz parte do conjunto de eletrodomésticos da casa há pouco tempo. Em Portugal, começou a surgir a partir de 2018, com o boom a ser registado de 2020 para cá, tendo a DECO Proteste testado, em 2023, 44 destes aparelhos tendência para perceber se “apresentavam boa qualidade de construção, não tinham problemas de segurança, e eram versáteis e relativamente fáceis de utilizar”.
É sabido que a air fryer veio mudar a dinâmica numa cozinha: funciona como um pequeno fogão que prepara os mais variados alimentos — como carne, peixe, legumes e até bolos — com recurso a pouca ou nenhuma gordura ou óleo, de forma mais saudável e em menos tempo que um forno ou uma fritadeira tradicional. Antes deste, houve outros eletrodomésticos e utensílios que ao longo dos anos vieram revolucionar a cozinha e a forma como as refeições são preparadas. Da cloche, também conhecida como patusca, à Bimby, passando pela tupperware e as máquinas de café, reunimos sete. Cada um há sua maneira, e com uma função diferente, marcaram o seu caminho até chegarem aos dias de hoje. Uns continuam a ser utilizados, outros declararam falência, e há até aqueles que ficaram esquecidos, num qualquer armário da cozinha.
Batedeira, da manual à elétrica
Versátil e manual, a batedeira de manivela começou a ser desenvolvida na década de 1850 e era utilizada para misturar praticamente tudo aquilo que fosse necessário. Tendo sido adaptada nos anos que se seguiram, apenas em 1919 surgiu a elétrica, pelas mãos de Herbert Johnson, que viria a revolucionar a vida de quem estava pela cozinha. Naquele ano, o engenheiro norte-americano, natural de Ohio, criou o H-5, o primeiro batedor de ovos doméstico. Ainda numa fase de testes, uma das mulheres dos diretores da empresa Hobart Manufacturing Company comentou que aquele era o “melhor ajudante de cozinha” (“kitchen aid”, em inglês). O nome pegou, dando origem à marca que ainda hoje perdura: a KitchenAid.
Na década de 1920, as campanhas da marca apostavam na versatilidade da batedeira, fazendo com que logo nos primeiros três anos no mercado vendessem 20 mil batedeiras H-5. Em 1936, a tecnologia aliou-se ao design com Egmont Arens, editor da revista Creative Arts e da Vanity Fair, a juntar-se à KitchenAid para criar três dos modelos mais conhecidos — entre eles o famoso K — que ainda hoje inspiram as novas batedeiras. Essas só foram introduzidas na Europa na década de 1980, com a vinda para Portugal a registar-se pouco depois, já nos anos 90.
Tupperware
Pode ter declarado falência em setembro deste ano, mas, para sempre, qualquer recipiente plástico que estiver guardado no armário da cozinha vai responder pelo nome de Tupperware, mesmo que não seja da marca. Criada em 1944 pelo engenheiro norte-americano Eal Siles Tupper, a Tupperware foi revolucionária no mundo da cozinha ao conceber os icónicos recipientes herméticos para ajudar as famílias a conservar os alimentos durante o período pós-guerra. O seu primeiro produto ficou conhecido como “Tigela Maravilhosa” pelos benefícios que oferecia em comparação com os tradicionais que existiam na época: era mais leve e menos propenso a quebrar em relação ao vidro e loiças tradicionais. No entanto, o maior sucesso só chegou mais tarde, já em 1948, quando Brownie Wise apresentou uma forma mais eficaz de fazer os produtos da Tupperware chegar aos consumidores, inserido o método de vendas de demonstração porta-a-porta — as chamadas “festas Tupperware” — e permitindo que muitas mulheres tivessem uma carreira profissional, criando assim uma comunidade sobretudo direcionada para as suas famílias.
A Portugal, a Tupperware chegou em 1967 oferendo uma resposta a todas as necessidades, permitindo conservar ou servir qualquer tipo de alimento. Atualmente, a marca está presente em mais de 100 países e desde os anos 90 que continuou a inovar e a revolucionar o armazenamento e preparação de alimentos. Em setembro, a marca declarou falência depois de no ano passado ter avisado que estava numa situação financeira difícil, no entanto, explicou que “vai continuar a operar” durante o processo de falência e que vai tentar obter a aprovação do tribunal para um processo de venda da empresa. “Planeamos continuar a servir os nossos valiosos clientes (…) durante o processo”, explicou Laurie Ann Goldman, presidente e CEO da empresa.
De qualquer forma, os tupperwares já estão tão bem inseridos na vida quotidiana que o nome já não é apenas o nome de uma marca. Hoje em dia, é sinómimo de uma categoria de produtos, e assim aparece nos dicionários portugueses: no dicionário online da Priberam, Tupperware é definido como “recipiente plástico usado para acondicionar alimentos, geralmente com tampa de fecho hermético”.
https://observador.pt/especiais/tigelas-maravilhosas-mulheres-maravilha-a-wonder-bowl-e-a-historia-do-tupperware/
Liquidificador
Apesar de as suas origens remontarem ao início dos anos 1900, em Inglaterra, só em 1919 é que o inventor polaco, que vivia nos Estados Unidos, Stephen J. Poplawski começou a desenhar aquele que em 1922 seria lançado como o liquidificador que conhecemos nos dias de hoje: um copo de vidro com uma lâmina giratória na base que funciona eletricamente. Usado inicialmente para preparar os tipicamente norte-americanos milkshakes, o liquidificador só começou a ganhar popularidade na década seguinte, em 1937, com o lançamento do “Waring Blender”, de Fred Waring, ainda hoje fabricado — mas com atualizações.
Acompanhando a tendência de modernização doméstica, o liquidificador foi introduzido em Portugal entre os anos 50 e 60, com a Europa, influenciada pelos EUA, a desenvolver o liquidificador Turmix Standmixer, que mais tarde deu origem a outro tipo de aparelho: um extrator de sumo de qualquer fruta ou legume, que também estava disponível como acessório separado que se encaixava naquele gadget.
Cloche (ou patusca)
Poucas são as casas portuguesas que no topo do frigorífico ou de um armário de cozinha não têm uma cloche adormecida, à espera de ser, por fim, usada depois de tantos anos. Na moda nos finais da década de 1970 — e assim se manteve até aos anos 90 — este era o forno elétrico que, na época, toda a gente queria. De formato redondo, lá dentro fazia-se de tudo — desde doces a salgados — e, para felicidade de quem o adquiria, gastava pouca eletricidade quando comparado a um forno tradicional. Era ainda uma boa opção para quem não tinha um forno na cozinha de casa. De tanto português que se tornou — com origens difusas — a cloche era também carinhosamente chamada de “patusca”.
Máquina de café
As cafeteiras clássicas tinham o seu lugar bem marcado nas casas portuguesas. De filtro de papel, café moído e água quente, serviam canecas e chávenas de quem de café aprecia — ou de quem precisava para acordar. No entanto, na Suíça, a Nestlé viu nas cápsulas de café uma forma mais prática de fazer um expresso e lançou, em 1986, a tão conhecida Nespresso. A primeira máquina de café com sistema de cápsulas acabou por chegar a Portugal em 1999 e ganhou popularidade nos escritórios pela conveniência e rapidez de fazer um café. Em 2008, a Delta Cafés procurou oferecer uma alternativa ao crescente mercado de cápsulas e lançou as suas primeiras, com o sistema Delta Q. Com os anos, as máquinas de café saltaram dos escritórios para as casas dos portugueses — que continuam a ter uma cafeteira clássica na bancada da cozinha — pela procura pela mesma conveniência e qualidade de café que encontravam nos locais de trabalho.
Bimby
Em Portugal é conhecida por Bimby mas se falarmos com a empresa que a criou, a alemã Vorwerk, é identificada como Thermomix. O robot de cozinha é um daqueles que mais revolucionou a cozinha nos últimos anos, tendo ficado popular a partir de 2000, em Portugal, com 2012 a ser melhor ano de vendas, registando 35 mil unidades. Acessível e eficiente, a Bimby veio facilitar o processo de cozinhar, sendo capaz de cortar, misturar, triturar, amassar, ferver, cozer e cozinhar a vapor. No entanto, a sua origem remonta há 60 anos, quando a Vorwerk desenvolveu a primeira Bimby: chamava-se VKM5 e nasceu como resultado da junção dos liquidificadores desenvolvidos pela empresa.
Associada à plataforma Cookidoo, a Bimby apresenta-se como um sous chef que conhece mais de 40 mil receitas. Multifuncional, serve para fazer refeições completas — e até mesmo complexas —, sopas e gelados e sobremesas. Além dos mencionados, conta ainda com cinco modos especiais: o turbo, o slow cooking, o caramelo, o chaleira e o autolimpeza — sim, facilita a limpeza do copo depois de ser utilizado.
Air Fryer
Voltamos ao início e ao eletrodoméstico mais recente que tem revolucionado as cozinhas. Batatas fritas saudáveis? Existem e são feitas na Air Fryer, a fritadeira que faz circular ar quente em torno dos alimentos que cozinha, deixando-os igualmente estaladiços e crocantes como se fossem feitos numa fritadeira tradicional. O conceito foi popularizado em 2010, quando a Philips lançou a primeira air fryer, mas só com a pandemia da Covid-19, em 2020, é que este aparelho começou a ganhar mais popularidade em Portugal.
Tanto por ser uma forma de cozinhar mais saudável — uma vez que utiliza 50 vezes menos gordura —, como pela rapidez, a air fryer tornou-se num must have nas casas de tantos portugueses que a utilizam para fazer qualquer tipo de refeição. Sejam fritos, cozidos ou assados, o aparelho permite fazer carne, peixe e legumes, e até mesmo sobremesas e pães. Uma das outras vantagens é o facto de o cesto da air fryer poder ser aberto durante a utilização, o que permite ir sempre dando um olhinho no que está a ser cozinhado.