O falso equilíbrio dos "people pleaser": 6 perguntas sobre pessoas que precisam de agradar aos outros, evitam conflitos e dizem “sim” a tudo
Quando se colocam sempre as necessidades dos outros à frente das nossas, o resultado pode ser uma diminuição do bem-estar psicológico e da saúde mental.
1 O que é um "people pleaser"?
O termo não tem tradução direta para português, mas refere-se a alguém que tem como característica a necessidade excessiva de agradar aos outros, muitas vezes à custa de colocar de parte as suas próprias necessidades e desejos.
São pessoas que valorizam muito a aprovação dos outros, tendem a dizer “sim” a tudo e a colocar o bem-estar alheio à frente do seu.
2 Que problemas de saúde mental podem estar associados a este comportamento?
Este comportamento é conveniente para os outros mas acaba muitas vezes por ter um impacto psicológico e emocional para a própria pessoa.
“Está associado a diversos problemas de saúde mental a médio e longo prazo, como o aumento de ansiedade, o aumento da sintomas de depressão, o burnout, dificuldade em estabelecer limites e relações saudáveis e duradouras, sentimentos de fadiga e frustração, e até uma desconexão e isolamento social”, diz a psicóloga Joana Gentil Martins.
3 Mas como é que um "people pleaser" se comporta?
Geralmente, as características mais evidentes de um “people pleaser” são a dificuldade em dizer “não”, o evitamento de situações de discórdia ou conflito, uma autoestima baixa e uma necessidade constante de validação, por exemplo, de receber elogios.
No entanto, há um conjunto de outras características e comportamentos, que é habitual encontrar nestas pessoas:
- Dificuldade em reconhecer as próprias emoções e necessidades;
- Problemas em estabelecer limites e terminar relações;
- Responsabilização em excesso pelo bem-estar dos outros;
- Alteração do comportamento e valores conforme a pessoa com quem estão, para lhe agradar;
- Dificuldade em procurar ou pedir ajuda, com receio que os outros interpretem isso como uma fraqueza;
- Dificuldade em dar a sua opinião;
- Pedir desculpa constantemente, mesmo em situações em que não tem culpa;
- Dificuldades em estabelecer prioridades;
- Preocupação excessiva com o julgamento dos outros;
- Autocrítica muito elevada.
4 Qual é a origem deste comportamento?
Há habitualmente vários fatores que, em conjunto, levam a pessoa a comportar-se assim.
A psicóloga Joana Gentil Martins explica que a necessidade de agradar excessivamente aos outros se deve geralmente a fatores que incluem “baixa autoestima, crenças limitantes, elevada sensibilidade à rejeição, o medo da desaprovação e aprendizagem durante a vida de que agradar ao outro é mais seguro ou vantajoso”.
A psicóloga exemplifica: uma criança que cresceu num ambiente onde o amor e a aceitação estavam dependentes de ela cumprir algumas condições, sendo castigada, repreendida ou rejeitada quando não cumpria, pode desenvolver esta tendência de ter sempre comportamentos agradáveis.
Um “people pleaser” é alguém que habitualmente desenvolveu crenças falsas, às quais os psicólogos costumam chamar distorções cognitivas. A psicóloga exemplifica algumas:
- “Se eu não agradar a esta pessoa, ela vai deixar de gostar de mim”;
- “Se eu digo ‘não’, ele deixa de ser meu amigo”;
- “Se eu me colocar em primeiro lugar sou egoísta”;
- “Só está a elogiar-me para ser simpático”.
5 É possível mudar este comportamento?
Sim. Quando a pessoa o identifica e percebe que lhe traz problemas e sofrimento, pode e deve procurar ajuda e é possível mudar.
“Em terapia”, explica a psicóloga clínica, “trabalhamos com estas pessoas para saberem identificar as suas crenças centrais disfuncionais, como a ideia de que o seu valor depende de agradar aos outros. E ensinamos estratégias para desafiar esses pensamentos”.
É um trabalho gradual, frisa, mas com grande hipótese de ser bem-sucedido. “É possível desaprender este padrão e construir relacionamentos mais equilibrados — com os outros e consigo.”
6 E além de fazer psicoterapia, há exercícios que seja possível fazer sozinho?
Sim. Qualquer pessoa que identifique este comportamento em si pode praticar a “auto-observação” e o “auto-questionamento”. Por outras palavras: estar atento ao que faz e ao que sente e fazer perguntas sobre isso.
Joana Gentil Martins deixa um conjunto de perguntas que são relevantes para quem se sente neste padrão:
- Onde, na sua vida, sente que está a dizer “sim” quando quer dizer “não”?
- Quando foi a última vez que se sentiu desconfortável ou desrespeitado/desrespeitada numa relação ou situação?
- Quais são as situações ou pessoas que drenam a sua energia?
- Quais são as suas necessidades? Está a ignorá-las?
- Estou a fazer isto porque realmente quero, ou porque acho que “tem de ser”?
- Se eu dissesse “não”, o que realmente aconteceria? A outra pessoa deixaria de gostar de mim, ou estou a catastrofizar? Quando alguém me disse ” não” a mim, eu deixei de gostar/falar com a pessoa?
- Se a pessoa deixar de gostar de mim porque eu digo “não” para me priorizar, será que é uma pessoa que eu queria tanto assim na minha vida?
- O que é gostar verdadeiramente de alguém? Está dependente dos seus “sins” e “nãos” ou é mais do isso?